«Do ponto de vista ideológico, a cultura do século XX foi, em boaparte, dominada por correntes antiliberais. Apesar da suaimportância histórica na alteração das estruturas sociais e do poderpolítico, o liberalismo nunca deixou de suscitar reservas. Porum lado, o conservadorismo nunca deixou de estar ativo, reaparecendoem sucessivas metamorfoses. Por outro, a fragilidade dos regimesconstitucionais deu azo ao aparecimento de doutrinas em confronto como pensamento liberal, em particular o fascismo (Gentile), onazismo (Schmitt), e o marxismo (Gramsci). O marxismo, rotulando como«abstrações burguesas» as ideias liberais separação depoderes, direitos individuais, democracia representativa, viria mesmoa impor-se como ideologia inultrapassável, no dizer deSartre, não obstante coincidir, paradoxalmente, com o liberalismo naideia utópica de uma sociedade que dispensaria o que épropriamente político. Com a derrocada do socialismo nos países doCentro e do Leste europeus, em finais do século, dir-se-ia que ademocracia liberal tinha, finalmente, vingado, pondo em causa oprestígio de marxistas como Lukács, Marcuse ou Althusser. Purailusão! Sob a equívoca designação de democracias iliberais, asau-tocracias recompuseram-se, multiplicaram-se, e Putin apelidou oliberalismo de doutrina obsoleta. Apesar deste seu predomínio, oantiliberalismo não tem impedido o surgimento de importantes obrasa questioná-lo, de que são exemplo as que José Colen apresenta nestevolume. O resultado é um notável trabalho de filosofiapolítica que, por certo, não deixará indiferente quem quiser conhecero novelo de ideias, emoções e interesses que lastram ascontrovérsias de hoje e que sempre foram a alma do político.»